Desde o início da manhã de terça-feira que a Índia está a ser palco de uma rara cirurgia: uma equipa de médicos está a tentar remover dois braços e duas pernas a uma menina de dois anos.

A pequena Lakshimi nasceu com um "gémeo parasita". Este deixou de se desenvolver ainda no útero da mãe, enquanto o feto sobrevivente absorveu os membros, rins, estômago e ainda a coluna vertebral do gémeo.

Desde o seu nascimento, Lakshimi tem sido venerada na sua aldeia natal como a verdadeira reencarnação da divindade cujo nome recebeu: Lakshimi é a deusa hindu que simboliza a saúde e tem, justamente, quatro braços.

Os empobrecidos pais, a quem foram feitas várias propostas para transformarem a filha uma atracção de circo, preferiram confiar na ciência e aceitaram o convite do hospital de Bangalore, que se propôs tentar oferecer a Lakshimi uma maior qualidade de vida.

"É uma menina muito querida e brincalhona"

Apesar da indignação geral dos aldeões - que preferiam conviver com uma divindade do que com uma criança saudável -, a menina chegou mesmo ao hospital de Bangalore marcada por várias feridas e dolorosas infecções, muitas decorrentes do facto de não se conseguir mover normalmente.

Na unidade hospitalar, Lakshimi ganhou o carinho de toda a equipa médica e dos outros utentes. "É uma menina muito querida e brincalhona de quem toda a gente gosta", confidenciou um dos médicos.

O Dr. Sharan Patil, cirurgião chefe do hospital onde Lakshmi está a ser operada, não esconde que este é um desafio muito importante e que pode não correr bem. "Está a ser feito um grande esforço pela equipa de cirurgiões, que está envolvida de alma e coração na resolução do problema", assegurou Patil.

Em torno da mesa de operações vai rodando, desde o início do dia de hoje, uma equipa de três dezenas de médicos, que durante cerca de 40 horas se irão revezando em vários turnos.

Patil, embora acredite que tudo deverá correr pelo melhor, lembra que existe um risco de 20 a 25 por cento de a menina não sobreviver.

600 casos em 500 anos

Esta forma de gémeos siameses é extremamente rara, com apenas um nascimento registado em cada 200 mil, sendo que a percentagem de sobrevivência ronda uns magros 15 por cento.

Os registos históricos confirmam que nos últimos 500 anos só ocorreram 600 casos em que o bebé nasceu com vida: mais de metade eram raparigas.